Ante a ansiedade de alguém ela se posta aos pés e contempla, procurando pacificar o espírito preocupado, e na tristeza é tão solidária a ponto de incorporar tal estado.
No seu dia a dia corre, late, visita todos os cômodos, inspeciona cada cama e por fim reivindica as apresentações das visitas. Não que queira fazer sala, apenas exige que lhe peçam autorização de entrada.
Nada pode lhe escapar na rotina da casa, cuida de tudo, e literalmente mete o nariz (ops, focinho) em tudo.
Jamais iria alterar minha indiferença ante tão minúscula centelha biológica, pensei quando de sua chegada. A vida seguiria, toleraria este capricho da caçula (que me fulmina com os olhos quando a chamo de bebê), mas determinaria espaço restrito para a presença deste semovente insignificante.
Hoje, constrangido, me pego conversando com ela, atendendo às suas brincadeiras, procurando por sua presença a cada retorno e me preocupando com seu bem estar.
Volto pra casa já antevendo a saudação mais eloquente dentre todas, o frenesi de rabo e lambidas, e um olhar de eterna felicidade.
Ela tem lugar cativo nas nossas viagens, visitou alguns estados do país, e já se banhou inclusive em mares badalados.
Confesso que via, e censurava, este comportamento de donos com seus bichos como excentricidade, como boiolice mesmo.
Hoje, tenho a certeza que é ela que me leva pra passear, e o cativo sou eu.