Algumas ruas são mais do que lembranças. Como a Maria Paula, nas imediações do Viaduto Dona Paulina.
São cenas de uma época, de uma história, de parte de nossa jornada estudantil.
Ali as árvores envelhecidas disputam o canteiro central com os artísticos postes de ferro de duas, típicos da cidade antiga.
Há, ainda, a padaria da esquina repleta todas as manhãs de moradores e transeuntes, entre pingados, baguetese médias completas. E de odores que atravessaram os tempos, de café com a fumaça dos automóveis, e de cigarros com a brisa industrial da cidade.
O restaurante do meio da quadra que debruçava sua janela de vidro na calçada, sustentada por uma envelhecida jardineira, trazia um bom cheiro de feijão e bife pela hora do almoço. Este já não existe mais.
O prédio centenário, com sacada artística e molduras nos recortes das janelas, insiste constrangido em disputar a paisagem com os novos arranha-céus, com a dignidade de sua cor, talvez verde claro, que incorpora a fuligem e a fumaça da cidade produzida em tantos anos.
A cidade demora em se despir da roupa velha, isso é bom para a saudade, porque farta a memória.
Dou passagem para minha pressa, passo as mãos sobre a mureta do viaduto sobre a 23 de maio, vislumbro por segundos o rio de carros e tomo a direção da Estação Liberdade. Passo em frente ao antigo cinema que se fechou, da pequena praça que diminuiu mais ainda, e tomo o assento subterrâneo de volta ao presente.
O Metrô me despeja na Paulista, e daí sigo para o aeroporto.