Um blog pessoal para compartilhar ideias com amigos e familiares. Todos os posts de autoria exclusiva do autor, e eventuais citações de terceiros com nomes dos respectivos autores e/ou textos destes em destaque. PauloCCSaraceni

PRODUZIR NÃO É ANTÍTESE DE PRESERVAR.

Produzir em nosso país é um trabalho de Hércules.
O produtor rural não apenas tem de enfrentar os altos custos, a dificuldade de escoamento dos produtos, o baixo preço, a burocracia fiscal e a falta de armazenamento.
Tem também de superar uma legislação que, a pretexto de proteger o meio ambiente, impõe obrigações que oneram e comprometem a viabilidade econômica de sua propriedade.
Por exemplo, a exigência de uma reserva legal, intocável, de no mínimo 20% sobre a área de todo imóvel, a par de não garantir, na realidade, a manutenção de uma mata natural nativa e sua consequente preservação, onera o produtor de forma a subtrair de sua atividade não o lucro, mas muitas vezes a sua própria subsistência, especialmente do pequeno proprietário.
Se pretender conformar nestas ilhas de preservação, muitas delas diminutas e sem reunir os elementos naturais indispensáveis, um manancial natural de espécimes animais e vegetais é um disparate que não resiste ao mais singelo estudo biológico.
Simplesmente porque em muitas destas pequenas áreas, segmentadas, é impossível se reunir todo o universo biológico, mesmo com as peculiaridades regionais, que garanta o equilíbrio e a diversidade ecológica própria para a sobrevivência dos espécimes vegetais e animais. Não apenas por sua extensão limitada, mas por absoluta falta de estudo e planejamento que garanta a reunião e consolidação de um ecossistema próprio, autóctone, permanente.
Então se convive com uma ficção, um faz de conta com aquelas propriedades que ainda mantém um pedaço de mata e,  em raros casos que alguns poucos espécimes ali restaram, fadados ao desaparecimento porque são diminutos grupos isolados, indivíduos confinados e fora do universo e da cadeia alimentar que lhes garantiriam a subsistência e reprodução, se prestando a uma falsa ideia de preservação.
Mesmo porque o desequilibro de espécimes, em número e diversidade, cooptados nessa restrita área, sem qualquer controle, acaba por impor-lhes o flagelo lento da morte e do desaparecimento, muitos inclusive durante a tentativa de fuga desta ilha de confinamento.
Existem estudos conclusivos de Engenharia Ambiental,  de que estas ditas reservas têm servido à proliferação e manutenção de insetos e pragas, que comprometem a produtividade e aumentam a reinfecção nas áreas contíguas tratadas. Até mesmo a erradicação da febre aftosa encontraria dificuldades especiais em nosso país em face da existência dessas áreas abandonadas à própria degradação.
Essa exigência vem originalmente da legislação da década de 60, no chamado código florestal, e pretendia apenas a garantia de manutenção de uma reserva industrial de madeiras em face do uso crescente do solo em propriedades rurais antes ocupadas com florestas nativas. E isto se conforma com a nossa realidade atual?
Hoje o país possui o Programa Nacional de Florestas (PNF), o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), com diversos programas e instrumentos legais e vem implementando políticas que garantem o fornecimento de madeira industrial, plantadas e nativas, e nos colocam como campeões mundiais de produtividade florestal. E o primeiro também em áreas e unidades de conservação.
Essa restrição ainda presente entre nós inexiste na totalidade dos grandes países produtores. Parece-me graças ao atavismo e inércia jurídica do que por obra da implementação de uma política preservacionista. Isto acaba por comprometer a própria competitividade do país no âmbito internacional.
Os nossos produtores, que já não contam com condições e estímulo oferecidos aos seus principais concorrentes nas principais economias, ainda enfrentam este ônus exclusivo no mercado global. E aqui eles vivem acuados pela Lei, embora desmoralizada porque na prática essa chamada reserva já não exista em grande parte das propriedades, e existindo não garanta qualquer preservação ou recuperação para fins ambientais.
Uma política séria de preservação leva em conta um amplo e minucioso estudo biológico, com planejamento e estrutura adequada, conformada em vastas áreas de reservas de domínio do poder público e sob sua fiscalização e manutenção, onde se garanta a permanência das condições nativas específicas, com sistema intacto nas suas peculiaridades e idiossincrasias, com todas as propriedades  do universo da fauna e flora locais. Amplas áreas permanentes, intocáveis, que efetivamente permitiriam a sobrevivência de todas as espécies naturais, e o abrigo efetivo da nossa rica fauna e flora.
Um bom exemplo disso são os chamados Parques Florestais, como o mantido pelo governo paulista na Serra do Mar, que garante a manutenção e conservação da maior extensão de mata atlântica no país.
Preservar nossas riquezas naturais, nossos animais e florestas, é de fundamental importância, vital para o país e para toda a humanidade, mas de forma efetiva.
E o país precisa produzir para preservar. Inclusive em políticas públicas comprometidas, em estratégias e logísticas eficientes para tanto.

MONÓLOGO INTERIOR

Poucos dias para uma ilusão, dia 3 é apenas um dia.
Ficção de que podemos, mortais eleitores, intervir.
Apostava que sim.
Democracia.
Nada é como sonhamos. Vou continuar tentando.
Horário gratuito. Que combinação de palavras.
Tem sentido.

SÓ OS QUE AMAM ENTENDEM.

Estar no estádio, com 50 mil outras pessoas, gritando o nome do mesmo time, vendo aquelas cores, aquele ruído, aquela luz, aquela emoção que só o futebol tem, é uma destas sensações únicas.
O Morumbi estava lotado, tinha uma névoa fina, uma fumaça que confundia e condensava um pouco a intensa luz dos holofotes. Estava lá eu e meu filho e no campo o nosso São Paulo.
Fazia um pouco de frio mas o estádio parecia um vulcão de gente, e entrou em erupção junto com a entrada do time.
Primeiro o Rogério Ceni, o goleiro correndo, e seguido pelos demais jogadores, desde o túnel até o centro do campo, diferente das outras vezes.
Ganhamos e perdemos, porque a vitória de 1 X 0 não foi suficiente para irmos à final da Libertadores.
Mas foi uma vitória de uma paixão, que compartilho com meu filho, nascida desde que chutei a primeira bola de capotão, nos campos de terrão no interior de São Paulo.
Lá naquele Morumbi, onde vi Pedro Rocha numa improvável vitória contra o Santos de Pelé, onde vi Pablo Forlan, Terto e tantos outros com a camisa tricolor, uns de fino trato com a bola e outros com a raça do boleiro, eu retornava para ver uma nova geração ao vivo, contemporânea do meu filho.
Impossível não se emocionar, e não gostar de toda aquela festa.
Só os que amam o futebol entendem.

SAMBA DO BIXIGA

Ninguém cantou São Paulo como Adoniran Barbosa, aliás, João Rubinato era o verdadeiro nome deste paulista de Valinhos, filho de italiano que adotou a cidade de São Paulo como seu domicílio definitivo.
Se vivo fosse faria 100 anos neste último 06 de agosto, e foi justamente homenageado pela cidade com a qual se identificou como ninguém.
Todos os jornais, por estes dias, falavam de suas músicas, do seu estilo inconfundível de caipira da metrópole.
O sotaque macarrônico que imprimiu aos seus sambas virou marca registrada, e acentuando propositadamente os erros de português criou frases imortais como “Se o sinhô num tá lembrado dá licença de contá”.
Boêmio, rodava pela noite de Sampa onde, nas suas palavras, se sentia como “A lâmpida e as mulheres são as mariposa”.
E buscando sempre uma boa noitada reclamou uma vez assim: “O Arnesto nos convidou prum samba ele mora nu Brás, nóis fumos e não encontremo ninguém”.
Imortalizou um trem e uma singela estação de subúrbio na sua poesia ingênua.
Fez todo mundo cantar como miseráveis, perdidos na grande cidade, e despejados de um velho cortiço, mas celebrando uma amizade solidária, incondicional.
Ator, humorista consagrado dos famosos programas de rádio da época, com auditório e orquestra, jamais abandonava o terno, o chapéu meio surrado e a gravata borboleta.
São Paulo teve seu Carlitos.

TENTANDO BLOGAR NOVAMENTE.

Nada de novo no front.
Vou tentar ter mais tempo para escrever no blog, um prazer que desejo retomar.
Abri as asas e estive em Sampa este fim de semana, fui ao Bixiga, revi as cantinas e trattorias que são a festa do paladar de todo descendente de italiano(dove si mangia bene e si parla molto, e con la mani).
Eu e meu filho comemos uma perna de cabrito com brócolis, acompanhada por um Montepulciano d'Abruzzo, sob a trilha sonora da boa música napolitana.
Na 13 de Maio corria a festa de Nossa Senhora de Achiropita, muita gente pelas ruas, muita pasta e calabresa feita pelas mãos generosas das mamas que se empenham em um trabalho voluntário e social.
Fazia frio, pouco, mas o suficiente para degustar um tinto da região dos meus ascendentes.
São Paulo é rica em tudo, em oportunidades, em diversidade, em cultura, e a paisagem urbana é um mosaico exclusivo, do centro velho ao novo, dos velhos casarões e sobrados às imensas avenidas com prédios modernos.
É única, e mesmo com tantos problemas, é sedutora.