SELVAGENS SÃO OS SENTIDOS
Restava um relógio que parecia parado, os minutos dentro do vidro eram grandes perdas, mas eu não os via aqui fora.
Experimentei as horas, elas também eram mortas. Todas as dúvidas estavam nos ponteiros, e eles flanavam lentos e indiferentes às minhas intenções.
Só o ponteiro dos segundos era dinâmico, e expressavam o passar do tempo.Tinha ritmo, decisão.
Os dias são um compasso idiota, prefiro o sinal da lua e do sol, e das nuvens que escurecem a jornada num dia de chuva.
Minha temperatura e meu tempo é do coração, ora calmo, ora fúria e ora uma ópera de Puccini, num libreto que se repete indefinidamente.
Os dramáticos são a mesma face inversa dos cômicos.
Está aí o sentido mais remoto das inspirações gregas, que humanizaram os selvagens que sempre habitarão em todos nós.
Boa noite, desde o boteco Legítimo.
São Paulo, 14.12.22
AS MINHAS VÁRIAS SEGUNDAS CHANCES
Recebi várias segundas chances na vida, a maior delas ainda desfruto com imensa gratidão no coração, é sobre minha saúde, tendo vencido o câncer, descoberto em plena pandemia(uma luta contínua e de seguidas batalhas), sobrevivi a 2 cirurgias relacionadas à doença de tantos estigmas mas que revelou o melhor da minha força, o melhor de mim.
Mas tive outras grandes chances.
Eu mal iniciava minha atividade como policial e chefiava um grupo de bloqueio(barreira em estradas) na fronteira, a busca era por contrabando de armas, carros roubados, drogas etc. Vinte e poucos anos, com treinamento precário em uma academia ainda muito incipiente, armas com munições contadas e viaturas velhas. Ah, mas com a coragem dos muito moços, a valentia dos "imortais" idealistas que se supõem ungidos por alguma força superior, crentes que sempre apostam nas mãos divinas.
As estradas vicinais de terra, preferidas pelo crime avisavam desde longe com uma cortina de poeira, mesmo nas noites escuras daquele oeste do Brasil, nas fronteiras violentas com a Bolívia e Paraguai, quando vinha um veículo.
A evasão do crime conhece a rota e se movem em alta velocidade e em carros potentes nas madrugadas e, mesmo para àquela época, sempre tiveram os melhores equipamentos e armas.
O crime sempre teve mais estrutura e mesmo a própria surpresa em relação às forças legais - vinham em mais de um veículo, geralmente batedores, e com um paiol inesgotável de armas e munições.
O bloqueio, por estratégia, se faz em duas turmas, a da abordagem propriamente e outra camuflada, preliminar, que fecha a via depois da parada dos suspeitos, e fica uns 50 metros, entricheiradas e veladas nas matas laterais da estrada, e impede a retro fuga. Abordamos uma camioneta com carga oculta por lona. Me adiantei e à frente da equipe de operações (formada por agentes civis, federais e militares) com meu precário 38 , 5 tiros, para junto da janela do condutor exigir a inspeção do veículo quando um grito por sobre meu ombro, que ecoou grave e ameaçador naquela noite tensa, quase desesperado, e que calou todos os ruídos e deixou evidente que o mais experiente agente do grupo( saudoso oficial, grande amigo, do nosso grupo de operações) , engatilhava para atirar:
- SE ALGUÉM SE COÇAR AÍ DENTRO TODO MUNDO SENTA O DEDO AQUI!
4 meliantes, com capivaras a perder de vista(os antecedentes puxados depois pelo rádio registravam dezenas de mandados de prisão), dois na frente com armas curtas empunhadas e com dois na parte de trás da cabine dupla que mantinham 2 submetralhadoras 9mm empunhadas entre as pernas, ficaram estáticos e sem reação. Mesmo porque o retrovisor da D10 já denunciava que parte da equipe camuflada já ocupava a estrada e enquadrava qualquer reação na retaguarda dos traficantes.
Eles queriam a resistência, mas ladrão também tem medo de morrer, e é o mais covarde dos medos porque só escolhem o confronto com absoluta superioridade de forças.
Se renderam, e coube a mim a primeira revista no condutor, que trazia entre as pernas uma Glock carregada e engatilhada numa das mãos.
Bem mais tarde, quase amanhecendo naquela pedagógica noite, após o interrogatório exaustivo que ainda me cumpria fazer, num desabafo raivoso e ameaçador, ele me fitou com a ironia típica dos bandidos e arrematou: - DOUTOR, ACENDE UMA VELA PRO TEU SAMANGO ASPIRINA(policial militar, aspirante a oficial), ELE ME ENQUADROU QUANDO NÓIS JÁ IA TE BOTAR UMA AZEITONA E TE MANDAR PRO DORMITÓRIO.
Uma das mais sérias lições na atividade policial, a abordagem é o momento mais crítico onde ocorrem grande parte das resistências e das fatalidades para o agente.
Foi meu batismo operacional, depois relato outros em que nem sempre o desfecho foi tão negociado, na moral, e alguns com baixas frustrantes do lado de quem trabalhava para a Lei.
Paulo C C Saraceni
Boa noite. CG 29.11.22
OBS: A carga era de farinha(pó) pura e erva(diamba, fumo), cerca de 100 kg
MEUS GRANDES PECADOS
Meus grandes pecados.
Grandes flagelos da minha pobre alma, simples, miseravelmente modesta segundo meus críticos.
Eu acredito no trabalho.
Eu creio firmemente no caráter, na moral, no merecimento.
Eu sou um indigente mental segundo estas vozes implacáveis dos meus impiedosos críticos, pois eu creio na honestidade.
Sou intolerante com a corrupção e a impunidade.
Um ladrão que rouba de um indivíduo é criminoso, quem rouba uma Nação é aí sim genocida, por subtrair empregos, alimentos, sobrevivências,, escolas e hospitais. Nunca vai merecer minha confiança, muito menos meu voto.
Sou demasiadamente simplório em ver só virtudes na natureza biológica que fez homem e mulher, apaixonados, perfeitos pares para o amor e para perpetuar a espécie.
Sou um ponto fora da curva porque só aceito a liberdade individual, a família, como a única razão para a existência do Direito, do Estado e das Leis, quaisquer Leis.
Eu sou assim, morrerei assim.
E estes críticos podem gritar, é permitido!
Eu respeito as diferenças, sejam vocês como quiserem ser!
Eu sou!
Prezo a Liberdade!
Respeito a todos, tais como são!
Mas nunca ousem me impedir ou impor suas crenças.
Vou matar ou morrer para garantir minhas escolhas, e amo a luta e uma guerra com boa causa.
VARIETAL POÉTICA
ONDE DORMEM OS PÁSSAROS
Onde dormem os pássaros é um mistério.
É um lugar no coração do homem que só ele conhece.
Que guardam guerras sem fim, batalhas perdidas e a esperança que não se rende.
Há ali uma ração para a coragem, porque o medo existe, e o desprezo a ele é a refeição diária do homem, sua fortuna.
Brotam dali também sua alma plena, e o tiro de vontade que quer o alvo de seus desejos, confessos e inconfessos - a silhueta bem feminina que ele chama de vida.
BOA NOITE AOS SELF-PERTENCIDOS
Salve-se. Salve-se, e dê à tua vida somente os contornos de tuas vontades.
Nenhuma dor tua será suportada por ninguém.
Nada te recompensará à altura do teu amor próprio.
Será sempre você reverenciando tuas experiências e sacrificando tuas carnes para as recompensas que julgar merecer.
Não há plateia neste merecimento e sê por ti próprio, as querelas das vitrines de vaidades do mundo em desfile é uma ilusão de felicidade , e o egoísmo é se negar, e viver neste roteiro público que se alimenta da aprovação.
NÃO SOMOS VELHOS, SENÃO QUANDO PENSAMOS QUE SOMOS.
O tempo é uma ficção. Então envelhecer é um processo individual.
Todos os organismos vivos possuem um relógio circadiano, que desde o nascimento até a morte controla a própria vida: nascer, crescer e morrer. Ao fim deste processo a vida acaba para cada indivíduo, mas o universo segue indefinidamente.
O tempo é este processo interno. A vida é eterna, sim. Tudo se transforma mas o tempo é um fenômeno interno a cada ser.
Einstein descobriu a relatividade do tempo, mas podemos afirmar da sua ficção, criação mental, uma régua que idealizamos na nossa mortalidade de estado, porque a nossa finitude é um trânsito para nova forma de existência. A matéria é energia e vice-versa, a morte de um estado é o nascimento de outro, ou de outra energia.
Espero que você desfrute bem da tua terça-feira, como se fosse eterna, porque você de certa forma é e sempre será!
Bom dia!
Paulo.