Idos dos 70. Vivia meu sonho de verão juvenil, flertava com o jornalismo, fazia faculdade de comunicações, abstraía as matérias acadêmicas fundamentais, em Sampa. Um curso a que não bastam os bancos de escola, aprendi depois.
Assim, logo após a matrícula fui premiado com uma amizade, Marcos, que vendo em mim a veia necessária do destemor pela informação e sede da verdade, com a potência adolescente em sair a campo para estas brigas, me convidou para um estágio no grupo Estadão.
E lá fui aos andares altos da Rua Major Quedinho, cheio de importância para revelar a verdade ao mundo(aquele prédio era inspirador, havia uma fachada luminosa com as manchetes, lembram?).
Marcos, mineiro pacato mas profundamente generoso com o novo amigo, era responsável por um dos jornais do grupo, Jornal da Tarde, e já um dia me escalava para uma entrevista no bairro do Limão, com um frustrado lutador de box que com projeção meteórica nos ringues, e breve, então minguava na miséria.
Bem, vou dispensar os detalhes, o que interessa é que vivi naquele período a descoberta de que um foca, um menino interessado na verdade da notícia tem um longo caminho para ver o resultado do seu trabalho. E não são apenas os obstáculos reais de acesso aos fatos, mas fazer dos fatos uma página do jornal.
Vencer as outras pautas, a exclusivo critério do conselho editorial e de redação, carregar nas tintas para se destacar entre os espaços publicitários, ter um poder de síntese que venda o assunto no menor espaço, provocar as emoções no leitor que o faça um difusor da matéria, e por conseguinte do jornal, mesmo que fantasie sua versão. Aliás, é desejável que assim seja, pois alcança mais ouvidos e leitores. E, especialmente, que fertilize todas as polêmicas, elas circulam muito mais do que a verdade.
Gratidão plena por esta experiência, a tudo e a todos.
Colhi para a vida os cursos de linguística, os fundamentos de comunicação e expressão, o entusiasmo com a pesquisa e um inconformismo agudo com as aparências, mas meu entusiasmo feneceu, meu espírito já vislumbrava outros sonhos onde eu teria mais controle sobre o produto do meu trabalho, e autonomia.
Bem, encurtando, no meio do primeiro ano prestei outro vestibular, fui fazer Direito, época em que era unificado em Cescem(médicas), Cescea(humanas) e Mapofei(exatas) e foi este o caminho definitivo da minha vida profissional.
Sei das modestas glórias das minhas vitórias, pequenas e no limite da minha realização pessoal, mas são suficientes porque me premiaram com a minha plena vocação para a liberdade.
Minha voz sempre ressoou por minhas crenças, minhas verdades e sentimentos, e disto jamais abrirei mão, e vou me escabujar até à morte pela garantia desta minha grande e única conquista.
Não me censurarão, eu escolhi viver e produzir em uma Democracia, com meu casal de filhos, Paulo e Natália, minhas netas Isabel(uma saudade que é presença), Cecília e meu neto Antônio.
Nenhum cacique ou toga, capa, diploma, patente, titulação, comenda, senhorio, cacutu, morubixaba, caudilho, gunga-muxique, mandarim, potestade vai arrebatar minha liberdade, não sem luta.