Todos sabíamos que as resistências seriam enormes.
Como vencer o poder que se forjou nas barganhas, na corrupção que contaminou o Estado e as instituições desde a fundação da República?
Era evidente que o sistema (o tal Mecanismo já bem retratado no cinema) em autodefesa, em corporativismo espúrio, iria contra-atacar, e com as mais abjetas ações típicas do crime, via da infâmia, da ameaça, da perseguição, tentando destruir reputações de instituições e pessoas que lhes deflagrassem esta guerra inédita.
E o primeiro tiro só poderia vir pela suprema coragem de agentes da Lei, em defesa da fé republicana, da Justiça e da Ética.
Até então as instituições republicanas dormiam a inércia do sonho impossível, capturadas por um Estado imerso e escravo do patrimonialismo de grupos, alguns dinastias familiares.
As rotinas se reproduziam sem jamais mexer com o andar de cima, intocável.
Covardia? Não! As redes de influência submetiam a segurança e independência institucional, e firmavam um pacto político de impunidade entre si e instrumentalizam os centros de poder para garantia dos assaltos contumazes ao erário. Bendita Constituição de 88 com as garantias de independência plena ao Ministério Público e à Justiça! Bendita estrutura e vocação das nossas Polícias, muitas ainda padecendo da real autonomia, que se atiraram com a própria vida nesta tarefa!
O inimigo sempre teve muito, e a histórica impunidade a seu favor, os próprios agentes da Lei temiam até a pouca companhia e solidariedade nesta brutal e desproporcional luta, pois a sobrevivência dos seus postos como que impunha ignorar o próprio dever e coragem.
Houvesse o primeiro tiro, repito, viria de uma improvável confluência de suprema coragem com um arrebatamento temerário, estes gestos que forjam os grandes mártires — seria bom que não precisássemos de heróis, mas antes tê-los do que ver triunfar solenes, e sarcásticos, os eternos vilões.
A história precisou deles em muitas ocasiões, e foram muitos.
Deltan e Moro estão entre os mais notáveis deste mutirão ético que dispararam certeiros, e com eles centenas de Procuradores, Juízes, Policiais, Auditores, e colaboradores que atacaram, sem precedentes, o crime coletivo — na ação e nos resultados — que vive de esbulhar o esforço comum da nação desde a sua origem, suprimindo o bem estar de todos.
Criou-se um padrão com esta magnífica reação republicana, o povo foi às ruas, queriam mais e querem.
Agora o país não abre mais mão desta vigília, depois de restaurada a fé na República e na Justiça.
O preço daquele sono não vamos mais pagar, por tão destrutivo, injusto e literalmente mortal.
O crime, o poder viciado no combustível da corrupção continua revidando, e mesmo agonizante vai combater — o torpe e mal combate — qual a célula cancerígena que quer sobreviver à saudável, à vida, parasitando e matando o organismo.
Estão eles até aos gritos, conclamando o povo com dissimulações, assacando calúnias, infâmias contra todos os dignos agentes da chamada Lava Jato.
E são manifestas as manobras para enfraquecer a Justiça efetiva destes novos tempos, as garantias legais, jurídicas, institucionais sofrem ilegítima e imoral pressão, e estão sob ameaça e perigo iminentes. Algumas já envidadas nas noites e longe da luz da vigília cidadã.
Que os fatos e a verdade vão resistir ao sofisma calunioso, que as provas e as certezas estão cristalizadas na consciência de todos é evidente, mas garantir os resultados, com a mudança efetiva do país, demanda eterna vigilância de todos.
Pois cada ofensa maldita, cada abuso infame contra a honra, a verdade e a Justiça dos que cumpriram o seu mister, apenas reforça a convicção dos homens de bem, e bem identifica os heróis e vilões.