Um blog pessoal para compartilhar ideias com amigos e familiares. Todos os posts de autoria exclusiva do autor, e eventuais citações de terceiros com nomes dos respectivos autores e/ou textos destes em destaque. PauloCCSaraceni

2019

Quanto o teu olhar for da janela da tua alma para o horizonte da tua rua, e encontrar teus amigos, os próximos e os distantes bem junto do teu coração, e sem medo revelar o teu sorriso, o teu afeto, o teu amor, abraçando tudo e todos, então estarás vivendo o espírito de fim de ano.
Que na verdade é começo.
Qual seja o calendário, a tua alma só resgatará o que semeou na jornada, faltarão coisas, sobrarão perdas, mas terás a plena ação da vida e o saldo que oferece o prêmio ou a lição, que é prêmio também.
Todo salto é uma queda, projetada pelo impulso, toda nota musical é resistência ao vibrato humano, que toca, bate ou sopra. E sente.
As tuas costas carregam a mobília da experiência, o grande currículo de tua vida, então não desprezes os pesos, o alívio pode ser indício de fraqueza.
Considere que em direção à luz tivestes a benção do contraste da escuridão, que te guiou.
Com adversidade se conhece o vitorioso, na luta se conhece a conquista e no ódio se reconhece o amor. Minhas palavras honestas para você, sinceramente.

DA VERGONHA


Eu ouvi há muito tempo do meu pai, que também é Paulo, que homem tem vergonha na cara. E faz tanto tempo que creio que na época era apenas um ruído, pois eu sequer entendia as palavras ainda.

Ouvi, desde então, que vergonha é uma virtude dos que tem consciência moral, dos que se arrependem do erro cometido, dos que fizeram mal, mesmo acidentalmente.
Vergonha é sinal de valor humano, de quem busca o caminho certo, de quem é capaz de enfrentar os próprios erros, dizia meu avô italiano, Angelo.
Oras, vergonha é bom, vergonha é caráter, só sente quem tem, dizia minha mãe que me encorajava depois de me confrontar, e me ver reconhecer, com mãos à procura de bolsos, uma das minhas inúmeras travessuras. 
E aí eu me surpreendi, um dia, questionando o meu primogênito, Paulo. 
— Você não tem vergonha, perdeu a aula?
Ele ruborizado, aflito e com os olhos marejados devolveu, entre um quase choro e um remorso, autêntico e comovente. — Papai, eu perdi a hora, dormi demais, nunca aconteceu comigo.
A minha caçulinha Natália, que ainda mal escrevia as primeiras letras, já me comovia quando abstraída em suas fantasias maternais e com o dedo em riste, questionava sua “filha” da Estrela, que colocada sentada nos pés de sua cama, numa inércia natural, cumpria o seu “castigo”. E ouvia uma precoce "mamãe" se irar: "Que vergonha!"
Então convivo muito com a vergonha, todos nós convivemos, ela está nas nossas vidas, dentro de nós, e nos assalta sem que a chamemos e sem esperarmos.
É bom que seja assim, isto é parte dos que têm uma empatia com o próximo, com o certo, com o justo e buscam se melhorar na jornada da vida.
Aliás, o Boris, aquele do jornal da tv, poderia até dizer assim: “—É uma vergonha, não ter vergonha”.