SELVAGENS SÃO OS SENTIDOS
Restava um relógio que parecia parado, os minutos dentro do vidro eram grandes perdas, mas eu não os via aqui fora.
Experimentei as horas, elas também eram mortas. Todas as dúvidas estavam nos ponteiros, e eles flanavam lentos e indiferentes às minhas intenções.
Só o ponteiro dos segundos era dinâmico, e expressavam o passar do tempo.Tinha ritmo, decisão.
Os dias são um compasso idiota, prefiro o sinal da lua e do sol, e das nuvens que escurecem a jornada num dia de chuva.
Minha temperatura e meu tempo é do coração, ora calmo, ora fúria e ora uma ópera de Puccini, num libreto que se repete indefinidamente.
Os dramáticos são a mesma face inversa dos cômicos.
Está aí o sentido mais remoto das inspirações gregas, que humanizaram os selvagens que sempre habitarão em todos nós.
Boa noite, desde o boteco Legítimo.
São Paulo, 14.12.22