A ideologia política é o pior dos fanatismos, supera o
religioso.
Todo governo ideológico é totalitário — aliás, é quase sinonímia.
Impõe-se e se justifica com ideias que quer conformar,
gessar a realidade.
O idealismo político é crença, produz modelos mentais
absolutos em gente que sequer leu Platão, Rousseau, Hobbes, Locke, Engels, Marx
e sua dissecação e destaque da chamada luta de classes na história, que confundem com Trotsky, que
abraçou a ortodoxia das ideias marxistas e na sua “revolução permanente” tinha
aspiração a um comunismo cosmopolita, e com Stalin que impôs um regime que
radicalizou a revolução de Lênin — e que produziu um genocídio próximo ao
nazismo de Hitler.
O socialismo/comunismo, num ideário radical, é um sonho de uma noite de verão, adolescente,
finito, como são as riquezas produzidas pela sociedade civil, que neste regime é tungada à exaustão pelos impostos que servem a um Estado mastodôntico,
corporativo, interventor e ineficiente, e onde se inibe ou se freia o espírito empreendedor individual, propulsor do desenvolvimento humano, econômico e das ciências.
A livre iniciativa sobrevive apenas com empresários
domesticados em um clientelismo subserviente e arrivista.
Produz sociedades paleolíticas, com mentes lavadas pela
hipnose do nacionalismo, isolacionismo, populismo, servilismo ao poder, esses
ismos que só produzem radicalismo em ilhas (mais que uma metáfora) de atraso e
restrição.
O poder nessas infelizes colônias contemporâneas, pouquíssimas e a maioria sobrevivente num inconsequente populismo, ou reféns de uma casta que instrumentaliza as instituições, ou mesmo cativas de uma deslavada ditadura, sempre se proclama revolucionário, "de esquerda" no espectro político, mas onde vigora o pensamento único que acaba por impor a censura,
mesmo que dissimulada e sutil, e onde sobrevive uma opinião publicada, eu disse publicada, engajada em que vicejam patrulhas sobre toda produção intelectual e
artística — o livre pensar, destoante, é considerado “de direita”, “politicamente incorreto”, as opiniões e as
ideias que fogem ao establishment caem na rasa de "neoliberalismo", "conservadorismo", "antinacionalismo" e de outras pechas que buscam estigmatizar a
oposição.
Todo adolescente já teve uma ideologia para viver. A
maturidade vem e ensina que a dignidade humana, o direito individual, assentado
no respeito à vida, à liberdade e à propriedade privada não pode prescindir de
uma sociedade civil forte, plural, sob absoluta primazia da Lei, com fundamento na meritocracia e na plena
liberalidade econômica, onde o poder de voto e veto seja sempre do cidadão —
a democracia não é uma panaceia, porque sequer regime político perfeito e acabado é, creio nela como uma odisseia social que cumprem
os povos em uma interminável jornada sempre incompleta, por imposição do
espirito humano livre, mas é o único caminho (ops, tantos vocábulos gregos inevitáveis na tentativa de
tratar de filosofia política).
A presidenta decidiu ir a Davos, meca do liberalismo na não
menos liberal Suíça, ao arrepio de boa parte da militância e de lideranças do seu partido, foi buscar
investidores, empresários, interessados na nossa economia, ciente de que o país
precisa produzir riquezas, até para que sustente a colheita crescente do Estado, na forma
de impostos.
Passou na volta, com toda a comitiva, em Portugal, pátria
irmã, em uma escala técnica contestada por boa parte da imprensa, que enxergou
um turismo esbanjador e inoportuno, onde teria fruído
da melhor hospitalidade capitalista (teria se hospedado no luxuoso Ritz da cadeia multinacional de hotéis Four Seasons) e desfrutado dos famosos acepipes de
estrelado restaurante lusitano.
De lá, foi ter com a ditadura Castro, na pobre, oprimida e
sacrificada ilha da América Central, para quem o Brasil generosamente financiou
um dos maiores portos da América Latina.
De minha parte, daqui da cidade morena, em meio a um típico janeiro destas tórridas terras pantaneiras, a notícia que mais me indignou, me
ofendeu como cidadão da democracia brasileira, foi esta última e emblemática
escala da comitiva presidencial, e que estranhamente não provocou tão diretas, veementes
e, aí sim, mais que justificadas críticas da mesma imprensa.
Como cidadão brasileiro, admito um roteiro oficial que
inclua todos os inevitáveis rapapés e canapés, o lordismo e até alguns faustos do poder
(ingenuidade esperar comportamento espartano de quem o exerce, a qualquer título),
mas que em nome do meu país abone e se relacione apenas com governos que
cumpram os costumes e os desígnios democráticos.