Um blog pessoal para compartilhar ideias com amigos e familiares. Todos os posts de autoria exclusiva do autor, e eventuais citações de terceiros com nomes dos respectivos autores e/ou textos destes em destaque. PauloCCSaraceni

ME FIZ PANTANEIRO

Em mim brotou e pulsa um calo desta terra, destas águas e matas,
Dos caraguatás, dos buritis, dos camalotes, das  piúvas, bocaiúvas e acuris,
Das bocas de sapo que espreitam nas várzeas dos corixos,
Onde pisam  pacas, cotias, capivaras, a onça e os quatis.
Grandes rios,  estradas vivas, selva dos cacharas,  dos curimbas , das piranhas e  dos jacarés,
Me reinventei   com essas ervas  que brotam espontâneas em saldos de nascer, de suas renovadas enchentes,
Nos cheiros  dessas verdes paisagens, de infinitas águas ,  e na cuia do tereré.
Vim moço,  febril de coragem,  no  trem noturno  sobre os antigos trilhos da noroeste, desde a velha estação de Guararapes,
E renasci   sob este  ardente  sol,  mergulhado nestes doces mares, claros e escuros, das chuvas  que aqui são muito  mais tropicais.
Mirava a vida e encontrei  o belo grito das araras —  das vermelhas e azuis,
E a música das seriemas, o vôo livre dos jaburus,  das garças, das cabeças-secas e dos coloridos cardeais,
E  minha Vanda morena, Cunhataí Porã,   cenra do meu amor, que comigo colheu Paulo e Natália.
Hoje, mesmo envelhecendo dentro da  sua grande cidade, me inspira o silêncio das tuas úmidas matas próximas,  alma do Chaco,
Couto de tanta vida, num mar de horizontes verdes e infinitos pastos — meu refúgio recorrente.
Paulista, eu me fiz Pantaneiro.