Não resisto em comentar a festa do encerramento dos impecáveis
Jogos Olímpicos de Londres, e a apresentação do Brasil como anfitrião dos
próximos jogos.
A tal apresentação apenas reforça o estereótipo que o mundo
tem em relação ao nosso país.
Qual a grande mensagem que foi passada?
Mostramos a nossa disposição como nação jovem em buscar o
progresso do nosso povo?
O espetáculo enfatizou nosso reconhecido talento para a celebração,
para a festa — que seremos convidados a pagar em meio a tantas carências.
Reforçamos a nossa franca hospitalidade como terra de muitos
povos, da alegria, a nossa marca registrada.
Na concerto mundial conseguimos reforçar a nossa disposição em
não levar nada muito a sério, afinal somos um povo do riso fácil, otimista — o
recorrente chavão ufanista com o qual incensamos nossas insistentes mazelas.
Mas a grande virtude de sermos uma abençoada democracia
multirracial e multicultural, sempre alentada, não deveria ser suficiente para
tanta comemoração.
Afinal, o mundo já sabe desde Cabral que o Brasil é esplendidamente mestiço, multicultural, festivo, rico...mas pobre, muito pobre.
E a pobreza que mais nos atormenta não está na falta de
recursos naturais, que são reconhecidamente abundantes em nossa terra, ou de riqueza cultural,
ou na omissão de celebração e realização de festas, em que somos pródigos, mas
na nossa incapacidade de gerir os nossos mais graves problemas — pela endêmica
corrupção que consome grande parte dos recursos públicos, e pela má gestão de
outros tantos — produzindo ainda entre nós crianças subnutridas e precariamente educadas, adultos
atormentados pela violência crescente nas cidades e pela falta de
oportunidades, com uma indigente assistência pública na saúde e sérias deficiências em outros
serviços públicos essenciais, com os nossos idosos negligenciados.
Os índices de desenvolvimento humano do nosso país revelam
um consistente progresso que nos autorizam tanta disposição para a realização
de tão ostentosa festa, com exorbitantes gastos com os caros jogos?
Que certamente ainda ficarão mais custosos entre nós, pelas
razões que todo o nosso povo de há muito já conhece e que nos rouba,
literalmente, o nosso efetivo sucesso como Nação, e que historicamente emperra
o nosso pleno desenvolvimento.
Inevitável reproduzir o clichê: Só no dicionário a palavra
festa vem antes da realização e do trabalho.