São intrínsecos a qualquer profissão os êxitos e os insucessos, que dimanam em alegrias e tristezas.
É da vida, não se possui o absoluto controle do resultado de qualquer trabalho, especialmente o jurídico onde o contencioso já impõe esta característica de incerteza como desfecho natural do embate de ideias, de postulados. Uma tese se somará à jurisprudência vitoriosa e outra à vencida.
Mas o profissional sabe que vitória já existe na realização deste nobre combate, na força transformadora deste dinâmico conflito que constitui a dialética jurídica.
A consistência e robustez de uma sentença justa são proporcionais a um contraditório com estas mesmas qualidades.
Mas é a vida acadêmica o foro liberal, franco e apaixonado, que mais reforça e transforma o universo jurídico. É a sementeira de ideias, a reserva filosófica do Direito.
E o magistério nos surgiu como uma atividade secundária, residual, e com menor compromisso.
Mas ocupou espaço principal na nossa satisfação profissional. Na realização plena do ideal acadêmico que nunca nos abandonou.
Tivemos nossa primeira experiência no ensino com o então chamado ginasial e colegial, hoje segundo grau, poucos anos depois de nossa formatura.
Cumpríamos, então, o dever de suprir o corpo docente da pequena escola do interior, na comunidade que agasalhava a nossa primeira oportunidade profissional, onde desempenhávamos função pública.
A nossa vontade em colaborar era muito superior à nossa incipiente didática, e nos impôs um intenso retorno aos livros de geografia, estudos sociais, entre outros, já que era essa a demanda.
A oportunidade da pós-graduação, bom tempo depois, nos propiciou então o magistério nos cursos jurídicos, paralelamente ao exercício da advocacia.
Ocasião em que voltamos a aprender nessa instância onde se realiza o encontro da vocação, dos sonhos, dos ideais com o conhecimento, produzindo o mais legítimo e inspirado saber — a brisa acadêmica, o inconformismo nas salas, a vigorosa inquietude estudantil em face da dogmática, da tradição, a energia crítica que transcende o poder dos códigos e livros no aprendizado, especialmente do Direito.
Foi onde colhemos também a crescente e permanente satisfação, e confessa vaidade, de testemunhar o nascimento de promissores (as) mestres (as) — expressão de verdade, mesmo se conformando num velho e surrado clichê cujo uso não nos constrange, não a nós que vivemos em gratidão eterna pelos espíritos intransigentes e renovadores que nos ofereceram preciosas lições, justamente nas salas onde pretendíamos ensinar.
Com nossa passagem por uma universidade particular e outra pública (federal), entre o magistério de Direito Penal e o Direito Civil, passando pela Teoria Geral do Processo, reencontro, com indisfarçável orgulho, muitos desses alunos e alunas na Advocacia, no Ministério Público, na Magistratura, entre outras carreiras jurídicas, alguns no cimo profissional ou funcional.
E hoje ainda recebo gratas notícias de muitas dessas gentis jovens almas que se espalharam pelo mundo, com o sincero sentimento de quase paternidade, aliás, uma delas é, de fato, minha caçula que também já segue prodigiosos passos profissionais.
Um fraterno abraço nesses breves reencontros, um singelo recado aqui mesmo nesta preciosa ferramenta que é a internet, ou um breve aceno à distância com a troca de um sorriso amigo, fazem hoje uma das nossas grandes alegrias, uma comemoração que permanece em nosso espírito, no testemunho do sucesso de todas elas.