Um blog pessoal para compartilhar ideias com amigos e familiares. Todos os posts de autoria exclusiva do autor, e eventuais citações de terceiros com nomes dos respectivos autores e/ou textos destes em destaque. PauloCCSaraceni

TRISTES PODERES, TRISTES REPÚBLICAS

A majestade e a autoridade do poder, ao longo da história, entre ditaduras e monarquias, dependeram sempre muito do rico mobiliário, do luxo intimidador dos seus amplos e lautos salões, e nos dias atuais se materializam no ar refrigerado de última geração, nos cristais importados entregues à tarefa diária de servir água, nas mordomias e nos dispendiosos rapapés que as cercam.
Estão legitimadas no cafezinho farto e gratuito, abundante a cada hora do dia, por garçons exclusivos e fardados, pelos tapetes grossos, pelos lustres dos gabinetes sempre perdulariamente iluminados, o poder continua intrinsecamente ligado à magnificência de suas instalações, mais do que em qualquer outro fundamento republicano.  
Antigamente se temia a crueldade dos monarcas,  comentava-se da adulterinidade dos reis, da sua falibilidade conjugal, e mesmo da masculinidade de alguns, e os castelos e seus aposentos recepcionavam intermináveis orgias, mas a sala do trono era indevassável, sagrada e inatingível para a maioria dos súditos.
Às sedes do poder de algumas ditas Repúblicas contemporâneas, lançam-se todos os dias dúvidas sobre as negociações havidas nas suas entranhas, especula-se sobre a lisura das alianças ali gestadas, da moralidade dos seus quadros, publicam-se, em todas as mídias e em todos os dias, suspeitas, indícios, denúncias, reverberam-se boatos e confirma-se certos abusos, mas nada ofende mais do quando se invade o seu espaço — tal poder é cioso do seu foro, que vem do latim fórum, local.
Nenhuma pecha, acusação, nem mesmo as anedotas usuais que se lancem contra os seus ocupantes, e que virou esporte nacional da cidadania ultrajada, afligem tanto os seus ocupantes quanto quando se lhes ameaçam o indevassável, luxuoso e tumular território, os seus sacrossantos e lautos espaços. Ali repousa a autoridade que se concedem, como uma bela roupa cara, limpa e cheirosa, que lhes emprestam a dignidade e a pompa.
Que não ousem, portanto, devassar-lhes os armários, vasculharem suas gavetas, suprimir-lhes as maletas, mesmo em nome da Justiça, mesmo em nome da República, pois o foro é da Autoridade, mais do que público.
Trata-se não de foro privilegiado, mas privilégio de foro.

Tristes Repúblicas.

DR. PEDRO HIDEITE DE OLIVEIRA - UMA JUSTA HOMENAGEM

Comemorei muito o recebimento de um convite, por estes dias, da Câmara Municipal de Guararapes/SP, minha estimada terra natal, para celebrar a concessão do título de cidadão ao grande amigo, irmão e mestre Pedro Hideite de Oliveira, que ali desempenhou, por alguns anos, a função de Promotor de Justiça.
A sua contagiante vocação pela Justiça, sua coragem e determinação em buscar a verdade e a vontade da Lei em toda as suas batalhas judiciais, nos estimularam mais ainda para a carreira jurídica, e como coadjuvante atento, e aprendiz privilegiado na condição de primeiro Estagiário do Ministério Público da Comarca, sedimentamos efetivamente a nossa formação profissional.
O dia da publicação no Diário Oficial do Estado, pela Procuradoria- Geral de Justiça, da nossa aprovação e nomeação para aquele estágio oficial, é uma destas datas capitais na nossa vida, e medular na estruturação do nosso futuro.
Desde a sua recepção pessoal, festiva e fraterna, no gabinete de trabalho da Promotoria junto ao Fórum e durante todo este nosso qualificado trabalho de aprendizado, até o final com a sedimentação da sólida amizade que desenvolvemos, encontramos um irmão, que acolheu então um jovem atônito mas determinado, e conspirou para as nossas futuras escolhas.
Quando o Ministério Público ainda não desfrutava das devidas garantias que viriam com a Constituição de 1988, assisti às suas incansáveis batalhas pela Justiça, em labor pioneiro que toda a instituição semeava, com a ferramenta da coragem e o senso insuperável de dever que moviam e contagiavam todos os pares desta nascente sentinela da República, o Promotor passava ser conhecido não mais apenas como o acusador, mas aquele que promove a Justiça, a Lei, o Direito, o indivíduo, a Democracia e toda a coletividade.
Com o testemunho de cada batalha vinha a conquista de um novo aprendizado, que só ficou menor em face da grande amizade que esta convivência nos premiou. O gesto mais fraterno, à semelhança de um irmão mentor para o caçula, vivi na despedida deste período de treinamento, às vésperas da formatura, quando recebi numa manhã, uma caixa fechada com a sua oferta para que usasse o smoking, o traje de uso exclusivo da sua própria colação de grau, na minha cerimônia máxima acadêmica. E acompanhada da recomendação de que fizesse os ajustes que fossem, já que seria o uso definitivo daquele traje, para o seu confessado orgulho amigo.

Amigo Pedrinho, você se lembra deste episódio, mas para mim é mais do que uma lembrança, foi a expressão mais efetiva da vossa generosidade amiga, e selou o nosso reconhecimento e eterna admiração.
Pedrinho, um evento muito especial me roubou a data desta justíssima homenagem, de que jamais outro roubaria minha certa presença, nasce exatamente por estes dias a minha primeira neta, na gema paulista, e este agendamento familiar, compromissado há algum tempo,  por mim e minha Vanda, já teve até os voos reservados há tempos.
Terei contigo grande amigo, em breve, para um chopp amigo, não apenas em promessas, nem em dever mas no prazeroso e franco abraço tendo como fundo esta prosa amiga, estes contos antigos vividos por nossa grande amizade.

Guararapes reconhece, parabéns à sua Câmara Municipal, e a todo o nosso povo.
Dr. Pedro Hideite de Oliveira merece.

Pedrinho, seu amigo e irmão,
Paulinho.